sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A Incoerência Teológica

Dias atrás estava conversando com alguns evangélicos e sobre o porque deles seguirem aquilo que seguem. Por exemplo: mulher não poder usar calça, o crente não poder fazer tatuagens, dentre outras coisas.
Mulher pode usar calça?

Quando questionados, claramente em alto e bom som a maioria falou que não! Perguntei um simples "porque?":

Um falou:
"Acho que pode sim, não vejo problema algum!"

Outro contrariando:
"O pastor diz que a mulher não pode usar calça e pronto!"

Outro complementou:
"O pastor disse mas eu não vejo nada na Bíblia que fala de mulher não poder usar calça!"
Outro disse mais:
"Isto é doutrina, então deve ser seguido!"
Perguntei:
"Doutrina? Baseada em que? Por acaso isto esta na Bíblia?"
Dai uma outra replicou:
"Tem sim, na Bíblia numa parte fala que a mulher não pode usar roupa de homem, e homem não pode usar roupa de mulher!"
Esta ai a resposta, então mulher não pode usar calça porque a Bíblia diz que mulher não pode se vestir como um homem, e como calça é roupa masculina, logo é proibido o seu uso pela mulher. Interessante...
É proibido fazer tatuagem?

Novamente quando questionados responderam negativamente, dizendo que isto era pecado, que crente não pode ter estas "coisas". Novamente questionei "porque?".

Um disse:
"O crente não deve fazer o que o 'mundo' faz!"
Outro complementou:
"Isto é coisa do diabo!"
Um contrariando falou:
"Que mal tem? Só uns desenhos e letras, não vejo problema nenhum, hoje o mundo mudou, a modernidade esta ai!"
Perguntei
"mas não tem nada na Bíblia que fale a respeito?"
Dai e mesma que falou sobre a mulher não poder usar calça pois estava na Bíblia, ela respondeu: " tem sim, pois na Bíblia diz que não se pode fazer marcas de tatuagem no corpo." Esta ai, mais uma vez a resposta plenamente bíblica.

Um filho pode se casar com a própria mãe?

Eles me olharam, e um disse "esta maluco?". A maioria em uma única só voz respondeu que não poderia. Novamente a palavra mágica: "Porque?", e ouvi as mais variadas respostas:
"Não sei o porque, só sei que é errado"
"Se eles tiverem vontade, se tiverem amor um pelo outro, pode sim!"
"Isto também é do diabo, e nós crentes não devemos fazer estas coisas que o 'mundo' faz!
"Na Bíblia diz que um filho não pode se casar com a própria mãe e com outros diversos parentes", respondeu a "sabe tudo".
Interessante, então pelo que estava vendo a doutrina desta igreja estava passando nos testes de "coerência teológica", pois tudo estava plenamente baseado na Bíblia. E fui perguntando varias coisas "pode isto?", e alguns respondendo "não porque na Bíblia diz que não pode". E uma hora chegou na seguinte questão:

O crente deve guardar o Shabat (Sábado)?

O espanto em seus rostos foi maior do que quando perguntei se um filho poderia se casar com a própria mãe. Todos sem exceção falaram que não. Até o mesmo que havia falado não haver problema algum em mulher usar calça, fazer tatuagem e se casar com a própria mãe, falou que o crente não deve guardar o Shabat. Soltei novamente a palavrinha mágica: "Porque?"
Um disse:
"Agora é a Graça, e o Sábado é passado!"
Outro complementou:
"Nós crentes não precisamos guardar a Lei, pois a Lei é peso, e Cristo tirou o peso!"
A "sabe tudo" disse:
"Porque no NT não fala nada de observância do Sábado, logo se não esta escrito ali não precisamos guardar. Pois o que o crente precisa seguir é só que o ha no NT!"

Conclusão: Coerência ou incoerência teológica?

Algo me pareceu estranho nestas respostas!

Em todas as questões que tinham relação com a doutrina ensinada por esta igreja foram explicadas com passagens da Bíblia.
Por exemplo, quando questionei a respeito da calça ser usada ou não pelas mulheres, obtive a resposta de que na Bíblia em uma parte diz que a mulher não deve usar roupas de homem. Tal passagem existe realmente, e consta na Torah, Deuteronômio 22:5 que assim fala: "Não haverá traje de homem na mulher, e não vestirá o homem vestido de mulher, porque qualquer que faz isto é abominação a YHWH teu Ulhim". Ou seja, a doutrina ensinada por esta denominação esta correta neste ponto! Ou seja, isto esta na Bíblia, como a própria evangélica me respondeu!
Em outra questão como a da tatuagem, me responderam que em uma parte da Bíblia diz que não se deve fazer marcas de tatuagem no corpo. Tal texto esta na Torah novamente em Levitico 19:28, onde diz: "nem no vosso corpo imprimireis qualquer marca. Eu sou o S-nhor", em algumas traduções consta assim:"e escrita de tatuagem não poreis em vos; Eu sou o Eterno." Ou seja, isto esta na Bíblia, e se esta igreja assim ensina, esta fazendo bem!

Uma outra questão foi em relação ao casamento entre familiares, no caso entre mãe e filho. Também me falaram que isto consta na Bíblia como proibição. E realmente esta sim, na Torah, em Levitico 18:7, assim segue: "Não descobriras a nudez de teu pai, nem tampouco a de tua mãe. ela é tua mãe, não descobrirás a sua nudez." Claramente vemos a proibição de casamento entre mãe e filho escrito na Torah.

Coerência ou incoerência teológica? Guia da Ruach HaKodesh ou dos "santos padres/podres"?

E o Shabat? Deve o crente observar?

Todos responderam que não, pois "não costa no NT, então não precisa!"
Ora, mas se em todas as outras questões feitas fizeram a afirmação "esta na Bíblia" referente a calça, tatuagem, porque o Shabat não esta na Bíblia?

"Não, mas o Shabat não consta no NT, então não precisa!"

Ora, mas em relação a tatuagem não ha um versículo sequer no NT que trate de tal assunto, MUITO MENOS em relação ao não uso de calça pelas mulheres, e bem menos ainda em relação a proibição de casamento de mãe e filho!!! Alguns dizem que no "NT" não aparece Rav. Shaul (Paulo) observando vários mandamentos então não precisa guarda-los. Ora, mas no "NT" não mostra Rav. Shaul (Paulo) nem Yahushua fazendo xixi, então quer dizer que eles não faziam xixi? Se for usar o padrão estabelecido de que "se não esta no NT então não precisa", então a doutrina desta igreja e de muitas outras em relação a calça, tatuagem e centenas de outras coisas é totalmente furada, pois não ha base BÍBLICA alguma! Mas somente nas "fervorosas pregações" dos pastores!

Quando falamos a respeito da Torah com muitos evangélicos, logo dizem que o que esta na Torah não precisa, pois "isto é coisa de judeu".
Ora:
- A mulher não poder usar calça, não é "coisa de judeu"?
- Não poder fazer tatuagem, não é "coisa de judeu"?
- Não poder um filho se casar com a própria mãe, não é "coisa de judeu"?

Puxa, tudo isto não esta na Torah?

Ora se aquilo que esta na Torah não precisa ser seguido então porque pregar que um crente não pode ter tatuagem?
Porque pregar que o crente não pode se casar com a própria mãe?

Ora, se no "NT" não consta uma passagem sequer dando o mandamento de observância do Shabat, então o crente da mesma forma pode usar calça (mulher), se cortar todo, encher a cara de tatuagens de brincos no rosto e se casar com a própria mãe! Tudo porque se "não costa no NT, então não precisa observar"!

"Não, mas a Lei é peso, e Cristo tirou o peso!"

Aquilo que eles chamam de "Cristo cumpriu a Lei", mas na prática usam como "Cristo aboliu a Torah", é nada mais do que contrariar as suas próprias doutrinas.
Pois se no que eles chamam "Lei" consta da mulher não poder usar calça, do servo de YHWH não poder se casar com a própria mãe, e então se "Cristo tirou o peso" (aquilo que eles mesmo chamam "Lei") então pode se fazer tudo isto o que eles dizem que não pode.

O que quero mostrar é apenas a total incoerência teológica de tais "igrejas"!
Fica a questão:
Aquilo que é ensinado em tais denominações é porque esta na Bíblia ou porque um líder guiado pordoutrinas satânicas decidiu que era assim e disse que era "revelação"?

Pois se afirmarem que é porque esta na Bíblia então temos que cumprir tudo, não apenas o não uso da calça pra mulher, o não poder se tatuar, mas todos os outros mandamentos da Torah .
Ou eles, os lideres, vão admitir que suas doutrinas são humanas?

Creio que não irão optar por nenhuma. Não se darão a trabalho de aprender mais e muito menos admitir que seus ensinos são mandamentos de homens.
Porque? Pois a soberba e arrogância do "aqui é a salvação" os cegou! Se esta lotando os templos, então esta bom, a "obra esta crescendo"! Em time que esta ganhando não se mexe... Afinal, ali só ha boas intenções, somente o amor ao próximo, não? Todos são "bonzinhos", somente ocorre boa intenção ali. Mas ha um ditado que diz: O caminho para o inferno é cheio de boas intenções.

Em tais denominações não ha um padrão de interpretação bíblica. Interpretam a Bíblia como um horóscopo, de acordo com o vento. E se é lido algo que contraria interpretação anterior, como nos exemplos acima expostos(claramente contraditório), simplesmente ignoram, pois não querem se dar ao trabalho de investigar na Bíblia e fazer como a Kehila de Bereia, que é bendita no livro de Atos, que verificava sempre para ver se aquilo que estava sendo pregado era de acordo com a Torah ou não. Estes lideres que se dizem os "mais corretos" com suas pseudoortodoxias fazem como o mundo faz. Ensinam mentiras e incoerências! Tem ouvidos para ouvir (a Torah) mas não ouvem, tem olhos para ver (a Torah) mas não vêem, tem boca para falar (a Torah) mas não falam! Estão agindo sobre o espírito do anti-Mashiach, ou espírito da anomia, ou seja o espírito da "violação da Torah":

"Pois o ministério da IRA CONTRA A TORAH já opera; somente há um que agora o detém até que sejaposto fora; e então será revelado o INIMIGO DA TORAH, a quem o Senhor Yahushua matará como o soprode sua boca e destruirá com a manifestação da sua vinda; a esse INIMIGO DA TORAH cuja vinda é segundo a eficácia de Satan com todo o poder e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça..." I Tessalonicenses 2 (aramaico) sobre a vinda do anti-Mashiach e a ação de seu espírito maligno contra a Torah.
Quem ensina contra a observância da Torah esta ensinando segundo a eficácia de Satan!

Realmente os erros de Efrayim permanecem até hoje:
"Escrevi para ele [Efrayim] miríades de coisas da Minha Torah; mas isso é para ele como coisa ESTRANHA" ("coisa de judeu?") Oséias 8:12
"O Meu povo esta sendo destruído (...) visto que te esqueceste da Torah de YHWH" Oséias 4:6 Que YHWH, Bendito Seja o Seu Nome, abra os olhos de Efrayim! O problema é quando Efrayim não quer ver! Tem olhos mas não vêem...
"Desvenda os meus olhos, para que veja as maravilhas da Tua Torah" Sl. 119:18
"Para sempre, ó YHWH, a Tua Palavra está firmada nos céus" Sl.119:89
"A soma da Tua Palavra é a verdade, e cada um das tuas justas ordenanças dura PARA SEMPRE!" Sl. 119:160
Selah!
Romach Ben Tsabar

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

TRADUÇÃO OU TRANSLITERAÇÃO?

Nomes próprios não se traduz?Mas eles questionam essa "tradução", argumentando que nomes não se devem traduzir, mas sim transliterar. Lembrando que tradução é simplesmente a transposição de uma composição literária de uma língua para outra. Já a transliteração é a versão das letras de um texto em certa língua para as letras correspondentes de outra língua, isto é, fazer corresponder letras que tenham o mesmo som. Este procedimento é interessante e correto, e por vezes é utilizado nas traduções da Bíblia.

Não se traduz Bill Gates (do inglês) para Guilherme Portões em português. Também não se traduz Michael Jackson para Miguel Filho de Jacó. Também é errado simplesmente escrever um nome em português da forma como ouvimos em inglês: "Maicou Djéquisson", por exemplo, seria uma esquisitice sem tamanho! O nome deve ser mantido na forma como se escreve no original e, na medida do possível, deve-se manter a pronúncia da língua original.

NÃO SE TRADUZ ...

Como traduzir um nome próprio? Paulo Ottoni. Seria preciso dizer de seu percurso e da pessoa discreta e generosa que foi. Dizer de seu silêncio e do intraduzível da sua ausência tão prematura quanto inesperada. Seria, ainda, preciso dizer da paixão pelas desconstruções e pelos paradoxos da tradução.

Dizer de sua dedicação contínua, nos últimos 15 anos pelo menos, sobre a relação entre tradução e desconstrução, trazendo para os estudos da linguagem, em geral, e da tradução, em particular, uma relevante contribuição acerca do acontecimento da língua e de uma teorização sobre a significação. A tradução, ele a concebia como acontecimento ligado à apropriação da língua do outro; de seu idioma, ele diria junto com o amigo Derrida, cuja influência não pode ser negada. Mas como traduzir tudo isso na instituição universitária tão resistente às mudanças?

Aqueles que puderam partilhar cotidianamente de idéias tão fortes quanto instigantes, precisariam dizer da relevância de sua reflexão para a pesquisa e o ensino de tradução; de um lado, porque ela traz uma importante crítica acerca do legado deixado pela ciência lingüística em termos de questionamentos sobre a significação em geral e sobre a tradução em particular; de outro, porque, a partir da relação tradução/desconstrução, que ele soube muito bem ler e reinventar em português, confronta a tradição lingüística, indicando os seus limites teórico-metodológicos para lidar com a intervenção do sujeito, sua interação na e com a língua na constituição de sentidos.

Seria preciso dizer, ainda, que, na sua busca laboriosa do lugar institucional da tradução, soube, com simplicidade e sem vaidade, cultivar, ensinar, discutir o acontecimento da tradução e das desconstruções no horizonte do impossível; desde a sua pesquisa de tese que já tratava de uma dimensão performativa da linguagem em que discute Austin e Derrida, passando pela sua reflexão sobre a tradução até a sua investigação mais recente do texto derridiano, abordando a relação entre tradução e desconstrução, mais diretamente ligada à questão do idioma e da identidade.

Na sua reserva habitual, e nunca sem paciência, soube como poucos suportar o intraduzível, as resistências institucionais e fazer os textos da desconstrução sobreviverem em português na tradução. Por tudo o que foi e representou – e que não se traduz aqui –, ao mestre e amigo é preciso afirmar uma eterna gratidão.

Élida Ferreira
Ilhéus, 02 de abril de 2007